"... o Karate-Ka não pode se machucar, pois as lesões podem afastá-lo da prática ou impor a ele restrições físicas durante o treinamento..."
Após anos de prática (31 anos) tenho constatado que todo bom Karate-Ka busca de forma incansável a evolução técnica e física. O desenvolvimento técnico e físico vem, em grande parte, atrelado ao treinamento constante e livre de qualquer restrição física. Para que isto ocorra o Karate-Ka não pode se machucar, pois as lesões podem afastá-lo da prática ou impor a ele restrições físicas durante o treinamento. Ambas situações irão atrapalhar seu desenvolvimento como Karate-Ka. Apesar disto, hoje ainda, pouco ou nada é feito pela maioria absoluta dos Karate-Kas no sentido de prevenir a ocorrência de lesões, ou mesmo diminuir o impacto que estas podem ter sobre seu aparelho musculo-esquelético.
Uma teoria bem aceita entre os estudiosos na área de prevenção de lesões que acometem o sistema músculo esquelético, é a chamada "Teoria do Envelope de Função" (http://kneeexpert.com).
Esta teoria procura explicar e diferenciar a gênese das lesões causadas por micro-traumas de repetição, assim como das lesões traumáticas. Fornecendo com isso uma base racional para a formatação de protocolos de prevenção.
As lesões por micro-traumas de repetição ou "overuse" são vistas mais frequentemente em esportes de resistência como corrida, ciclismo, etc. Neste tipo de lesão, a estrutura danificada, seja um tendão, a cartilagem, o menisco, o osso, ou qualquer outra, é submetida a uma carga discretamente acima de seu limiar fisiológico durante um longo período. Após algum tempo isto pode causar um desequilíbrio na "Homeostase Tecidual". Nosso corpo procura constantemente restabelecer este equilíbrio, mas eventualmente não obtém sucesso. Neste momento o indivíduo pode passar a experimentar queixas compatíveis com: tendinites, lesões degenerativas de cartilagem (condromalácia), lesões meniscais de caráter degenerativo, lesões musculares de repetição, etc.
Já as lesões traumáticas são vistas mais frequentemente em esportes acíclicos (futebol, handebol, etc) e nos esportes de contato (lutas em geral). Neste tipo de lesão, a estrutura danificada, seja um tendão, a cartilagem, o menisco, o osso, ou qualquer outra, é submetida a uma carga muito acima de seu limiar fisiológico durante um curto período e isto pode causar uma ruptura daquela estrutura.
O papel de qualquer programa preventivo é na verdade aumentar a capacidade fisiológica das estruturas e tecidos de nosso corpo em receber e suportar a agressões, sejam estas repetitivas e micro-traumáticas, sejam traumas de maior energia: Melhorar nosso "Envelope de Função".
Para isso algumas premissas devem ser respeitadas:
- Aumentar o limiar para se atingir a fadiga (a maioria das lesões ocorrem em fim do treino).
- Melhorar o envelope muscular ao redor de nossas articulações (imaginem nossa musculatura como a primeira barreira na absorção e dissipação de energia).
- Respeitar períodos de repouso (é nele que nosso corpo procura restabelecer o equilíbrio após uma sessão de treino intenso).
- Boa hidratação (músculos, tendões e cartilagem dependem disto para uma boa função).
- Desenvolvimento muscular harmônico, gradual e proporcional (ganho muscular muito rápido, desequilíbrio entre grupos musculares agonistas e antagonistas, desequilíbrio entre lados esquerdo e direito, estão todos relacionados a maior ocorrência de lesões).
Bons treinos e treinem com inteligência.
Oss!!!
O Dr. Caio D' Elia é Karate-Ka há 31 anos e é Médico Especialista em Ortopedia e Traumatologia / Medicina do Esporte e Cirurgia do Joelho. Mestre em Ciências pela USP e Diretor Técnico do Instituto Vita.
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